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O impresso atualmente

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A cidade de São Borja, até 2016, já contou – com base no que foi apurado – com mais de 20 jornais impressos. Seja aprofundado em informação ou entretenimento, a favor ou contra o governo, com notícias gerais ou exclusivas de determinado local, cada um teve sua importância particular para a construção do formato no qual o jornalismo na cidade se encontra atualmente.

 

O Echo das Missões (1884) foi o primeiro jornal de que se tem conhecimento. O 13 de janeiro (1895) corresponde ao que foi considerado o mais importante, devido aos ideais de seu fundador e todas as consequências que proporcionou para a cidade. Adiante, tem-se o Uruguay (1906/1907) como o mais duradouro de todos. O Jornal de São Borja (1940) e o 7 dias (1963) também se destacaram, tendo figurado na década de 1960.

 

O Golpe Militar de 1964 enfraqueceu os dois jornais que circulavam na época e contribuiu para os seus fechamentos. O Jornal de São Borja encerrou as atividades naquele mesmo ano. Em 1969, o 7 dias publicou seus últimos exemplares e logo ficou apenas na memória da cidade. Em 1970 foi fundado um jornal que entrou para a história da imprensa são-borjense. Já no início deste século, especificamente em 2005, outro jornal também foi fundado e passou a ter grande importância para a população. Ambos fazem parte da vida de muitas pessoas até hoje.

JORNAIS EM CIRCULAÇÃO HOJE

O jornal Folha de São Borja

A trajetória do jornal mais antigo (em circulação) da cidade, se iniciou em 24 de fevereiro de 1970. Foi fundado pela família Grizólia, natural do município de São Luiz Gonzaga e proprietária de um dos jornais que lá circula (A Notícia). Quando a Folha de São Borja passava por um período de dificuldades, José Grizólia, que era proprietário do jornal, resolveu que deveria vendê-lo. Em 1976, a Folha ganhou um novo dono: Roque Auri Andres, que até hoje permanece à frente do impresso.

 

Andres chegou a trabalhar ajudando o irmão Luiz Valdir, proprietário do jornal A Tribuna, de Santo Ângelo. Conta que veio para São Borja em 1972, com o propósito de seguir os passos do pai, que era agricultor e mantinha uma empresa de ônibus. Nem imaginava que dali a alguns anos compraria um jornal; tampouco o tempo que ficaria no comando do veículo. Surgiu, então, em 1976, a oportunidade de fazer algo que gostava: comprou o jornal e passou a se dedicar somente a isso. No ano de 1983, Roque Andres afastou-se da direção do jornal, entregando o cargo a seu irmão Renato Andres.

Quanto à forma de montagem do jornal, Andres relata que “naquela época era tudo mais difícil, pois montava-se o jornal com tipos móveis. Era bem complicado e chato de fazer”. Os exemplares eram impressos em Santo Ângelo até ser adquirida a sua própria máquina. O sistema era montar letra por letra, a serem juntadas em uma caixinha especial; primeiro era impressa uma prova, um teste, e o que tinha de errado precisava ser desmanchado e feito novamente, de forma manual.

 

“As fotos eram de 'clichês'. Para colocar uma foto no jornal tinha que mandar a Porto Alegre, nesse clichê, que era um chumbo, e vinha pelo ônibus. Depois se colocava na página do jornal”, lembra Andres. A equipe de funcionários tinha de ser maior que a atual, e a revisão do jornal era mais difícil, chegando a demandar quatro correções antes de finalizar completamente a edição.

 

O funcionário da Folha de São Borja Edson Arce, jornalista há mais de 26 anos, começou em meados de 1989, tempo em que o modo de fazer a montagem dos jornais estava mais modernizado em relação ao que Andres vivenciou. Arce relembra que escrevia nas antigas máquinas datilográficas, que vigoraram no ofício até a metade da década de 1990.

A Folha de São Borja, como qualquer outro jornal, passou por altos e baixos até aqui. Rose Dornelles, recepcionista, lá trabalha há 29 anos. Conforme ela, o ano em que menos se vendeu jornal foi o de 1993. “Foi logo na transição de direção”, especifica. Depois de ficar alguns anos afastado, Roque Andres retomou o posto em 1992.

Locais de Funcionamento

Inicialmente, a sede da Folha de São Borja era na Rua General Marques, no local em que hoje funciona as lojas Obino, no Centro; posteriormente passou para um prédio na Rua General Osório, onde é hoje há a loja Favorita; dali foi para um antigo casarão na Presidente Vargas, que foi desmanchado e deu lugar à Cooperativa de Créditos Sicredi. Voltou, tempos depois, à Rua General Marques, dessa vez ao prédio em que atualmente funciona a academia de ginástica O2.

Entre tantos lugares que se instalou antes de ter sede própria, o jornal localizou-se ainda na Rua Eurico Batista da Silva, no ponto do grupo Felice, concessionária de automóveis; e, no ano de 1994, passou a contar com sede própria, na Rua General Osório, nº 2341.

Mudanças e características atuais

As principais mudanças no decorrer dos tempos, além do modo de montar e fabricar jornal, destacaram-se também quanto à estrutura do jornal. De acordo com Andres, houve aumento no número de páginas, que inicialmente era de 12, passando para 16, 20, 24, 30. Desde 1990 conta com duas edições na semana: uma na quarta-feira (16 páginas e um caderno com 8) e outra no sábado (24 páginas e um caderno com 8).

 

Outro aspecto a ser considerado são as vendas com o passar dos anos. Nas palavras de Andres: “Quando comecei no jornal, a cidade tinha 70 mil habitantes e hoje, 40 anos depois, continua praticamente com o mesmo número. A diferença é que antes eu vendia 800 exemplares e hoje o padrão é de 3 a 4 mil”.

Rose lembra que o ano de 2014 foi o melhor em relação às saídas de edições. Em toda a história do jornal, uma edição de 2015 chegou a vender 5 mil exemplares, devido a grande repercussão da manchete de capa, sobre um crime que abalou a sociedade local.

Arce considera que hoje tudo está mais fácil. O que antes era escrito à máquina e entregue a um digitador, é feito diretamente no computador, passando apenas para a montagem. “A questão da assessoria de imprensa mudou bastante. Hoje as matérias já chegam prontas, basta verificar se condiz com a verdade. Temos uns 6 ou 7 computadores em rede, e recebemos muitos releases”, relata. Aponta ainda que o que é publicado responsabiliza toda a empresa, não apenas a quem escreveu. 

Em relação à montagem final, há funcionários responsáveis pela edição das fotos e a diagramação do jornal. Feito isso, a gráfica recebe por e-mail o que deve ser impresso, na véspera da circulação de cada edição. Atualmente o jornal conta com nove funcionários e sete entregadores, que fazem parte também do quadro de funcionários, porém, trabalham apenas na quarta-feira e no sábado, entregando os jornais para os assinantes. Além dos entregadores de assinaturas, há em torno de 30 vendedores avulsos, que comercializam pela cidade nos dias em que sai edição.

 

De acordo com o livro Memórias sobre a Imprensa em São Borja, na primeira década dos anos 2000 a Folha de São Borja contava com 13 colunistas fixos e tiragem de 2.100 jornais por mês. Nessa época, a cidade passou a contar mais um veículo impresso.

Foi em 2005, com o surgimento da Folha Regional, fundada pelo grupo A Folha, da cidade de Santiago. O intuito era de ser um jornal empreendedor que englobasse notícias, além das locais, de cidades da região.

O jornal O Regional

A história de O Regional começa muito antes de o jornal ser comprado em 2008. Seu início remete a um fato ligado à Folha de São Borja, em 1975. Após ter saído do Exército, aos 19 anos, José Newton Falcão, proprietário de O Regional, participou de uma seleção de candidatos para uma vaga como redator da Folha de São Borja, que ainda era propriedade da família Grizólia. Seu texto foi muito bem aceito por quem o avaliou naquela época.

Daí em diante, Falcão passou por diversos jornais da cidade. Segundo conta, ao deixar a Folha de São Borja, ele e alguns amigos criaram O jornal de São Borja, que durou pouco mais de dois anos. Alguns anos depois, passou a trabalhar no Tribuna da Fronteira e mais adiante era responsável pelo Cotrinotícias, da extinta cooperativa Cotrisal.

Em 2006, passou a fazer parte da equipe do jornal A Folha Regional, o qual teve a oportunidade de comprar, dois anos depois, mantendo por algum tempo ainda o nome inicial.

Jornal empresarial de circulação interna
Tribuna da Fronteira, fundado em 1990
Newton Falcão fala sobre quem lhe inspirou 

Locais de Funcionamento

A sede de O Regional localizava-se na Rua Cândido Falcão nº 532, local que hoje dá espaço a uma concessionária de motocicletas. Permaneceu lá por cerca de 9 anos. Depois foi para a Rua General Marques e, em abril de 2016, passou para a Rua Bento Martins, nº 847, atual residência do proprietário.

Mudanças e características atuais

Quando se instalou em São Borja, o jornal contava com uma estrutura bem diferente da de hoje, de acordo com Falcão – a equipe era bem maior e cada edição continha 48 páginas. Inicialmente, circulava por 14 cidades das regiões Centro, Missões e Fronteira. Falcão diz que quando soube da possibilidade de comprar a estrutura do jornal A Folha Regional, não hesitou em investir na oportunidade.

 

A ideia de mudar o nome do jornal para O Regional, no início de 2010, foi por influência do público leitor, que costumava pronunciar esse nome ao invés do original. Com o tempo, a periodicidade também foi alterada. “A circulação é semanal, nós tentamos torná-lo bissemanal, mas não deu muito certo, por causa da sustentação financeira”, explica o proprietário, apontando que uma das principais dificuldades de manter um jornal em cidades de interior é o custo financeiro, por ser muito alto.

 

Devido às dificuldades para manter uma equipe maior, Falcão optou, desde que está à frente do jornal, em trabalhar em família. Fazem parte do grupo jornalístico fixo ele, a esposa Tânia, os filhos Newton e Daniela Falcão e um designer gráfico.

 

Por isso, a história do jornal apresenta um exemplo de superação. Não que outros jornais não tenham passado por altos e baixos em seu percurso, mas o que o dono do jornal O Regional faz para mantê-lo em circulação é sustentar um ideal.

Falcão é responsável pela maior parte do periódico, desde as reportagens à montagem final. Toda a produção é ele quem faz, ficando a esposa e a filha encarregadas da parte social, e o filho, que é educador físico, pela parte relacionada à saúde.

 

Hoje, O Regional circula toda a sexta-feira, com 20 páginas, contendo informações sobre o município de São Borja e outros cinco da região (Garruchos, Itaqui, Maçambará, Unistalda e Santo Antônio das Missões). Não há correspondentes nas demais cidades, apenas alguns contatos que lhe informam sobre os fatos mais importantes a serem divulgados.

 

Em termos de estrutura, o periódico conta com notícias e notas sobre variados assuntos das cidades em que circula, além dos artigos de opinião, assinados por colunistas. O jornal tem mais de 2 mil assinantes, além dos leitores que compram por venda avulsa. Embora já tenha enfrentado dificuldades no percurso, o proprietário não cedeu aos momentos de crise e reafirma hoje que é motivado pelo ideal, e não pelo negócio como fonte de lucro.

 

Em meio a uma época em que predomina o uso da internet, a consciência de que um dia o impresso pode chegar ao fim faz com que Falcão – que se confessa um apaixonado pelo jornalismo impresso – acredite que o público que atinge já tenha mudado bastante desde o início do O Regional.

Não se pretende exercer a análise comparativa quanto ao conteúdo dos jornais, mas é possível dizer que, de certa maneira, há similaridade entre as informações publicadas por ambos quanto a São Borja. A maioria delas é oriunda de eventos ligados à Administração Municipal ou a fatos ocorridos na cidade ou atos promovidos pelas entidades.

 

Ainda se vê certa influência política nos jornais atuais, porém, não aparece como algo imposto, e sim como escolhas editoriais, tendo ambos os periódicos liberdade para exercitarem a crítica, presente em artigos ou notícias. O vereador Tiago Cadó considera que “Hoje vemos os jornais publicarem críticas da oposição ao governo, e isso não só aqui, mas em várias outras cidades”.

 

Os jornais não circulam nos mesmos dias, o que não gera uma concorrência direta, porque o leitor pode optar por comprar ambos, na expectativa de informações distintas ou para ler o que escreveram os colunistas, que diferem entre os periódicos. Mas normalmente há um público cativo para cada qual, o que foi sobretudo constatado durante as entrevistas nas sedes dos jornais, quando foram indicados leitores tradicionais para serem abordados para este documentário.

 

Quanto à parte técnica, de acordo com o comentário dos proprietários, muito se teve de atualização. As máquinas de escrever deram lugar aos computadores e impressoras modernas; o bloco de notas (embora ainda utilizado) está dando lugar aos smartphones. Câmeras fotográficas tanto quanto telefones celulares podem capturar imagens para estarem nas páginas dos jornais. A tecnologia acaba aliada a outras escolhas, como a do projeto gráfico, que periodicamente vai sendo revisto e alterado para qualificar o produto. Contudo, ambos mantêm sua identidade visual, o que ajuda o leitor a identificar cada qual.

Newton Falcão e Roque Andres falam das perscpectivas para o futuro de seus jornais 
Edson Arce relembra as formas de se fazer jornais décadas atrás
Rose relembra edições passadas, ao citar as que mais e menos venderam

"Muita gente diz que o jornal impresso vai terminar, mas eu não acredito que termine. Embora se possa ter um arquivo digital, ter aquelas páginas em casa contigo é muito melhor" (Edson Arce)

"Não acredito no fim do jornal impresso. Eu leio todos os dias e acho que continua sendo importante, ele ainda vai longe. Mesmo com a internet muitos não deixam de ler." (Israel Lopes)

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